16 de maio de 2011

MEC, Gramática e Polêmica

Vou tentar ser claro e simples: pensadores fodões, como Chomsky, há muitos anos, definiram "gramática" como o saber linguistico dos individuos que falam determinada língua. Não importa se esse indivíduo é preto ou branco, pobre ou rico, homem ou mulher, velho ou novo, escolarizado ou não, ele possui um saber linguistico, logo ele domina a "gramática" da sua língua.

Entretanto, alguns curiosos (ou desocupados) resolvem descrever esse saber linguistico. Descrever as regras que formam, a partir de um conjunto finito de elementos, infinitos enunciados daquele idioma. Obviamente, esse cidadão não consegue descrever o saber linguístico de todos os indivíduos, uma vez que a língua e seu uso apresenta uma miríade de variações: região, classe social, idade, sexo, situação de uso, etc. Daí, ele consegue opta por descrever (entenda como publicar um livro chamado "gramática") uma dessas variedades linguísticas.

Agora caro leitor, raciocina comigo: qual variante ele escolherá? A do rico ou do pobre? A do escolarizado ou do analfabeto? A europeia ou a brasileira? Ou você acha que se debruçariam num trabalho árduo e complexo como esse pra descrever a língua dos desdentados?

Pois bem, obtida a Gramática Descritiva da língua ela é tranformada em norma. Passa a ser paradigma de certo e errado, de bom português ou mau português, de culto e belo. E ai daquele que não a dominar: está fadado ao limbo social, às periferias imundas e à eterna ignorância! É burro, é analfabeto, não tem crédito, não tem voz!

E a Gramática, antes "natural e neológica", nem mais descritiva é. Agora ela é Normativa. É quase uma Bíblia, um Corão! Livro sagrado que os impuros teimam em profanar com a falta de concordância e erros de regências.

Agora vem um livro didático e admite outros uso da língua que não o padrão sacrossanto da Gramática Normativa! "INFÂMIA! ABSURDO!" - bradam os leigos e as múmias da academia. "É um ultraje à 'Última Flor do Lácio, inculta e bela'"! "Onde esses miseráveis querem chegar? Não bastasse ter onde morar, o que comer, o que vestir, agora querem também falar?!"

Amiguinhos, a autora do livro está coberta de razão: não há certo e errado na língua. Realmente tudo é uma questão de adequação! Vamos a um exemplo prático: a babá do Teo, que não tem muitos anos de instrução acadêmica, deixa um recado me avisando que "presiso compra vasora" e que "os produto de limpeza acabaro". Tá errado?! NÃO!! Tá certíssimo! É o registro que ela tem! Naquela situação comunicativa, o bilhete é eficiente, comunica, cumpre seu papel! Logicamente, se ela um dia quiser ser magistrada, não vai ser adequado dar uma sentença sem observar a variedade padrão. Para isso, vai ter que aprender a norma culta, claro!

O que se discute no livro polêmico não é deixar de ensinar a norma, mas mostrar ao aluno que a variedade que ele domina é tão boa quanto qualquer outra. O que a autora pretende é justamente mostrar ao aluno que ele não burro porque não sabe a regência culta do verbo "assistir" e por aí vai.

Me* revolta mostrarem o livro numa reportagem do Jornal Nacional, como se fosse um crime de improbidade escolher um livro que trata o assunto de forma tão democrática, como poucos livros tiveram a coragem de fazê-lo.

Cansei...

*Sim, senhores! Começo a frase com pronome oblíquo átono, porque é assim que se usa no Brasil!

3 comentários:

B. disse...

só queria dizer que i <3 palilo

R. disse...

Hoje rolou essa discussão na mesa do almoço. Usei seus argumentos. Calei todos.
Obrigado!

guega disse...

não disconcordo plenamente!

o palito usa uma fluência que invejo.